Todos têm uma história, alegre ou triste. De vez em quando, vem-nos e transporta-nos a longínquos lugares. Nada traz mais saudades que os bons tempos ao lado dos familiares, junto aos amigos, na cidade perdida no fundo da alma. Recordar é viver ou sofrer duas vezes? Seja o que for, vou retornar. Beber a água límpida da infância perdida nos distantes grotões. Subir e descer, mergulhar em águas profundas, escalar morros e montanhas mais ou menos íngremes. Toco a mão nos espinhos que doem e trazem febre. Vejo-me deitado, avós na cabeceira, toalha molhada afugentando a febre que não quer ir embora.
Vou mergulhar nas águas correntes de uma fonte sem limites. Ver o sofrimento de meu pai, preso, sem poder comprovar que era um simples cabeleireiro; não um comunista, fichado até na Rússia, como garantiam os delatores.
As escarpas de grandes paredões transformarão minhas mãos em sangue. Vou lembrar da labuta da vida. Estudando e estudando, quilômetros a pé por não dispor de parcos centavos para pagar a condução.
As abelhas africanas que me atacarem quando estiver recordando, lembrar-me-ão que a vida é luta só. A abelha que produz mel, o alimento mais nutritivo, é a mesma que aferroa.
Recordar é viver, penso. Vou retornar. Recriar o que jamais será. Esta é uma das grandes frustrações do homem. Como diz o poeta Nelson Mota, “nada do que foi será…”
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